Dentes de Neandertais foram analisados à procura de restos fósseis de alimentos
A sofisticação dos Neandertais, aqueles humanos que conviveram connosco na Europa e se extinguiram há cerca de 30 mil anos, não pára de surpreender.
Agora, foi a vez de uma equipa de cientistas de Espanha, Reino Unido e Austrália concluir, num artigo publicado esta quinta-feira na revista Naturwissenschaften – The Science of Nature, que não só os Neandertais comiam uma série de vegetais cozinhados, mas que também percebiam o valor nutricional e medicinal de alguns deles.
Até recentemente, pensava-se que os Neandertais comiam sobretudo carne, mas uma série de novas análises, e o actual estudo em particular, desmentem cada vez mais essa hipótese. “Embora a carne fosse claramente importante”, diz em comunicado Karen Hardy, da Universidade Autónoma de Barcelona, “os nossos resultados sugerem que a dieta dos Neandertais era ainda mais variada e complexa do que imaginávamos.”
Hardy e colegas analisaram, à procura de restos de vegetais, o material encapsulado na placa dentária fossilizada de cinco Neandertais provenientes da gruta de El Sidrón, nas Astúrias. Aquele local do norte de Espanha contém a colecção de ossos mais completa da Península Ibérica – cerca de 2000 fósseis, com idades entre os 47 mil e os 51 mil anos, que pertenceram a pelo menos 13 indivíduos.
Combinando técnicas avançadas de análise química com a análise morfológica dos microfósseis vegetais, os investigadores conseguiram identificar na placa dentária grânulos de amido, hidratos de carbono e vestígios de nozes, ervas e até de verduras.
Mas mais ainda, duas das plantas identificadas nos dentes de um dos indivíduos não só não tinham valor nutricional como têm um desagradável sabor amargo. “O facto de este indivíduo ter comido plantas amargas tais como milefólio e camomila, cujo valor nutricional é muito baixo, é surpreendente”, explica em comunicado Stephen Buckley, da Universidade de York. “Sabemos que os Neandertais achavam estas plantas amargas [isto porque, num estudo anterior, estes cientistas já tinham mostrado que os Neandertais de El Sidrón possuíam o gene dito do “sabor amargo”, tal como muitos de nós]. “Portanto, é provável que tenham seleccionado essas plantas por razões não relacionadas com o sabor.”
Essas razões, afirmam os cientistas, terão sido de ordem medicinal. O milefólio contém azulenos, compostos conhecidos pela sua acção anti-inflamatória e antifebril – e a camomila contém cumarinas, substâncias que aliviam os edemas.
“O uso variado de plantas que identificámos sugere que os Neandertais que viviam em El Sidrón tinham um conhecimento sofisticado do seu meio natural, incluindo a capacidade de seleccionar e utilizar certas plantas pelo seu valor nutricional e para se auto-medicar”, diz Hardy.
fonte: Público
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