Os artefactos que datam de quase 15 mil anos atrás foram encontrados pela equipa do Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da UFSM. Este grupo é liderado pelo arqueólogo Saul Eduardo Seiguer Milder (à direita) e também conta com Lúcio Lemes (de azul), Angelo Pohl (de preto) e Bruno Gato
Investigadores da UFSM encontraram em Quaraí artefactos de cerca de 15 mil anos.
Um artefacto de 8 centímetros de comprimento e 3,5 centímetros de espessura, encontrado nas ruínas da Fazenda Santa Clara, em Quaraí, na Fronteira Oeste gaúcha, pode mudar o entendimento histórico e arqueológico sobre a ocupação humana nas Américas (confira o quadro).
O achado de 14.920 anos atrás, referente ao período glacial, foi encontrado pela equipa do Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da UFSM, que é liderada pelo arqueólogo Saul Eduardo Seiguer Milder.
No entendimento de Milder, o objeto deve aumentar a discussão em torno da teoria do Estreito de Bering, que diz que a ocupação da América começou pela América do Norte, cerca de 12 mil anos atrás.
Após a descoberta de mais de 180 ferramentas no Estado que datam de 5 mil a 15 mil anos atrás, a teoria do Estreito de Bering deve aumentar uma grande interrogação, já que outras descobertas, no Piauí e no Mato Grosso, já teriam feito essa interrogação surgir.
A quase certeza de Milder de que a ocupação da América não se limitou apenas à América do Norte – e que teria ocorrido também em outras partes da América – é corroborada por três indícios nos artefactos achados em Quaraí.
São eles: camadas sedimentares não perturbadas, ou seja, que não tenham tido algum tipo de intervenção destrutiva (seja do homem ou da natureza); materiais claramente lascados pelo homem; e fragmentos de carvão que serão submetidos a testes de carbono 14 (método de datação).
– Agora, essa amostra de carvão será enviada aos Estados Unidos e será submetida a uma análise para avaliar, novamente, a data do material. Com os artefactos que descobrimos, colocamos em discussão a origem do povoamento das Américas. Essa evidência encontrada aponta para outras migrações em períodos anteriores que não ficam restritas à América do Norte – avalia o arqueólogo Milder.
Ferramentas seriam usadas por um grupo nómada
Segundo Milder, as ferramentas deveriam ser utilizadas por um grupo de 25 a 30 pessoas. Conforme ele, eram bandos pequenos, porque, como desconheciam a agricultura e dependiam de caça e coleta, tinham um caráter nómade.
As escavações foram feitas nas ruínas da Fazenda Santa Clara, em Quaraí
Outra situação, no entanto, chama a atenção do investigador: há uma lacuna de 7 mil anos – referente ao período de 8 mil a 14.920 atrás – entre os objetos encontrados durante a escavação em Quaraí. O facto intriga o arqueólogo:
– De 8 mil a 14 mil anos, há um período em que o homem desapareceu da região. Não podemos descartar um forte período de mudanças, como alteração climática, que levou esses caçadores a migrarem.
Para o arqueólogo Lúcio Lemes, a produção desses artefactos chama a atenção por terem características próprias e com capacidade de serem utilizados para caça e raspagem de couro e madeira, entre outros.
fonte: Diário de Santa Maria
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