Peter Higgs
Físico brasileiro diz que descoberta não explica mistério da massa e defende teoria diferente.
Recebido com festa por grande parte da comunidade científica, o anúncio anteontem da descoberta de uma nova partícula subatómica com características compatíveis com as previstas para o bosão de Higgs não convenceu alguns cientistas de que a Humanidade encontrou a resposta para o mistério da massa.
Para o cosmólogo Mário Novello, professor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), os investigadores do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) ainda têm um longo caminho pela frente, não só para provar que a partícula encontrada é mesmo o bosão de Higgs como para destrinchar suas propriedades de forma a demonstrar que ele é mesmo responsável por dotar de massa tudo que vemos no Universo.
Segundo Novello, existem outras teorias que podem explicar o porquê da massa. Como cosmólogo, sua preferência recai sobre uma abordagem que envolve a gravidade, a principal força que atua na sua área de estudo.
Numa inversão do conceito newtoniano de que é a massa que gera a gravidade, ele defende que a gravidade é que é responsável por dar massa à matéria.
- O ponto crucial é que a massa sempre foi um conceito difícil de ser entendido - conta. - Durante muito tempo, a massa era entendida como uma propriedade fundamental da matéria, um dado, e não se tinha explicação para ela. Tudo isso mudou quando (Albert) Einstein fez sua revolução da Relatividade Geral, que é uma teoria da gravitação. É um conceito newtoniano de que a gravitação é gerada pela massa. Na Relatividade, quem gera a gravitação não é mais a massa, mas a energia. Por isso que mesmo os fotões, que não têm massa de repouso, podem gerar um campo gravitacional. Porque eles têm energia.
Resposta na cosmologia
Novello explica que sua ideias têm como base um conceito criado pelo filósofo e físico austríaco Ernst Mach no século XIX, que Einstein pegou emprestado ao formular a Relatividade Geral.
De acordo com Mach, a massa de um corpo dependeria da massa de todos os outros corpos no Universo.
Trazendo a ideia à luz do conceito de massa como energia de Einstein, o cosmólogo acredita que é mais simples ligar a massa à gravitação, que já se sabe interagir com tudo que existe, do que a um hipotético campo de Higgs do qual nada se sabe ou foi verificado.
- A física de partículas é feita em laboratório, e num laboratório o campo gravitacional é extremamente fraco - diz. - Mas o campo da gravitação, embora seja fraco, é universal. Assim, temos que a massa depende da distribuição de energia em todo o Universo. E essa distribuição é representada por uma constante, a chamada constante cosmológica. Curiosamente, depois de ter sido rechaçada por Einstein como um de seus maiores erros, essa constante está desempenhando um papel cada vez mais importante depois que se descobriu que a expansão do Universo está se acelerando.
Por outro lado, destaca Novello, a física de partículas ainda está longe de explicar como o suposto bosão de Higgs e seu campo interagem com a matéria para lhe conferir massa.
Segundo ele, este ramo da ciência ainda está montando sua “tabela periódica” nos moldes do que a química fez no século XIX. E, ao preencher mais uma de suas lacunas com a descoberta de anteontem, gerou mais perguntas do que respostas.
- Primeiro, é preciso provar que o campo de Higgs é universal, isto é, que o bosão de Higgs interage com tudo que há no Universo - lembra. - Além disso, pelas experiências no Cern, o Higgs não só tem massa como sua massa é muito grande, 100 mil vezes a massa do electrão. Isso gera dois problemas curiosos. O primeiro é como uma coisa tão grande pode ceder massa para algo tão menor como o electrão? Isso é estranho, mas vida que segue. O outro, no entanto, é ainda mais básico: e o que dá massa para o bosão de Higgs? E a resposta da física de partículas para isso é simplesmente “não sei”. O Modelo Padrão se esgota aí e não explica.
fonte: O Globo Online
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