quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Carne embalsamada no antigo Egipto continha resina vegetal


Costeletas mumificadas com resina de Pistacia PNAS


Imagem de raio X feita de caixão com carne mumificada (Foto: Anna-Marie Kellen / Egyptian Museum / PNAS)

Quando morriam, os faraós do antigo Egipto eram mumificados, mas não iam sozinhos para a sepultura. Os animais de estimação eram também mumificados com eles. Além disso, colocava-se uma verdadeira dispensa no sepulcro, para alimentar estes monarcas durante a vida depois da morte. Pão, cereais e fruta eram desidratados para se manterem conservados, mas havia também jarras de vinho, cerveja, óleos e até carne de animais.

Conhece-se pouco como se mumificava esta carne, mas uma equipa de investigadores estudou alguns bifes e costeletas mumificados e descobriu nas costeletas a utilização de resina de uma espécie vegetal do género da Pistacia. O trabalho foi publicado esta segunda-feira na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Science.

A equipa, liderada por Richard Evershed, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, obteve amostras de carne mumificada e bálsamos do Museu Britânico, em Londres, e do Museu do Cairo, no Egipto. Depois, estudou a composição da carne dos tecidos que enfaixavam a carne.

Em duas amostras diferentes, a equipa encontrou apenas carne dissecada e um tratamento de gordura animal aplicado às ligaduras que envolvem a carne. Mas nas costeletas de bovino que se encontravam no túmulo do casal Iuia e Tuia (pais da rainha Tié), datadas entre 1386 e 1349 a.C., vindas da cidade de Tebas, que pertencem ao Museu do Cairo, a carne sofreu um tratamento mais complexo. A sepultura onde estavam estas costeletas fazia parte da colecção funerária associada aos pais da rainha Tié, mulher do faraó Amenhotep III, que teriam um grande estatuto naquele tempo.

Os investigadores identificaram neste material, com ajuda da técnica de espectrometria por massa, resina de uma espécie vegetal Pistacia. Este género, cuja árvore mais conhecida é a árvore do pistácio, tem mais espécies arbóreas mediterrânicas. Sabe-se que apenas duas espécies mediterrânicas, a Pistacia lentiscus, conhecida como aroeira ou lentisco, e a Pistacia terebinthus, a cornalheira, produzem resina suficiente para ser armazenada e utilizada. Mas os cientistas não conseguiram identificar a qual das espécies é que esta resina pertence. 

“A resina era uma mercadoria valorizada no antigo Egipto e vista como um material de luxo, porque era importada e difícil de obter. A resina da Pistacia era utilizada sempre pela realeza ou pela elite egípcia. Era usada como incenso nos templos e nos rituais funerários, na ideia de que os deuses ficavam agradados quando inalavam o fumo adocicado, e era utilizada como verniz nos caixões das elites”, escrevem os autores no artigo.

Segundo a equipa, o uso para a mumificação foi raro, por isso a presença da resina nesta carne mumificada, 600 anos antes de se encontrar o material noutro material mumificado, é “notável”. "Talvez este material tenha sido usado especificamente para a carne mumificada para lhe dar um sabor agradável", sugerem os autores no artigo.

“A nossa descoberta mostra que a sofisticação dos cerimoniais funerários estende-se não só aos tratamentos de embalsamamento aplicados aos corpos dos mortos, mas também aos alimentos, em particular às carnes, que também eram enterradas com eles”, conclui o artigo.

fonte: Público

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