terça-feira, 3 de julho de 2012

Oxigénio injectado directamente nas veias pôs coelhos a respirar


Os glóbulos vermelhos precisam de entrar em contacto com o ar nos pulmões para receber oxigénio 

O médico John Kheir, do Hospital Pediátrico de Boston, nos Estados Unidos, não conseguiu salvar uma criança de nove meses, que tinha uma pneumonia. A infecção foi piorando cada vez mais, ao ponto de provocar hemorragias nos pulmões. John Kheir tentou tudo: desde entubar a criança, para o ar chegar mais facilmente aos pulmões, até ligá-la a uma máquina que substituía as funções cardíaca e respiratória. Mas era tarde de mais.

A bebé tinha ficado demasiado tempo sem ar e, quando o sangue voltou a receber oxigénio, o cérebro já tinha sofrido danos irreparáveis. Dias depois, a criança morreu. Esta experiência, em 2006, marcou tanto John Kheir que ele fechou-se no laboratório à procura de outra maneira de fornecer oxigénio ao sangue que não necessitasse de pulmões, relata uma notícia na revista Science.

Os glóbulos vermelhos são células extremamente adaptadas. Viajam no sangue e, graças à hemoglobina que lhes dá a cor vermelha, transportam oxigénio para todas as outras células do corpo. Mas precisam de estar em contacto com o ar, nos pulmões, para receberem o oxigénio. Foi isso que falhou à doente de John Kheir. 

Passados seis anos, este médico do Departamento de Cardiologia do Hospital Pediátrico de Boston publica agora um artigo, com outros investigadores, na revista Science Translacional Medicine, com os resultados da sua investigação à procura uma maneira de fornecer oxigénio ao sangue sem passar pelos pulmões. No artigo, a equipa mostra que, injectando uma solução no sangue com microesferas de oxigénio, foi possível manter vivos, durante mais de 15 minutos, coelhos que tinham as vias respiratórias tapadas.

Bolhas aprisionadas

"É uma maneira de injectar oxigénio de forma segura, para auxiliar os doentes durante alguns minutos críticos", diz John Kheir, em comunicado. "No fim, este sistema pode ser armazenado em seringas, em cada unidade de equipamento médico no hospital, numa ambulância ou num helicóptero, para ajudar a estabilizar pacientes que estão a ter dificuldade em respirar", antevê o médico.

As micropartículas são formadas por uma camada de gordura muito fina. Dentro destas partículas microscópicas, existe um volume muito pequeno de oxigénio que o sangue facilmente absorve sem causar embolias, ao contrário de volumes maiores deste gás. As gorduras são rapidamente absorvidas pelo corpo e, assim que entra em contacto com os glóbulos vermelhos, o oxigénio é logo transferido para estas células. 

A técnica para produzir estas microesferas utilizou um aparelho que emite ondas sonoras muito intensas, e que fazem com que o oxigénio entre dentro das bolinhas de gordura.

Depois, os cientistas conseguiram concentrar uma grande quantidade de micropartículas num líquido, para poder ser administrado. "A suspensão leva cerca de três a quatro vezes a quantidade de oxigénio que existe nas células do sangue", explica o investigador. 

Mas este é o factor limitativo: o corpo não tem capacidade de receber uma quantidade ilimitada de líquido. Por isso, este sistema só conseguiu manter os coelhos vivos cerca de 15 minutos e, com modificações, John Kheir pensa que será possível estender esse período até aos 30 minutos. "Não vai substituir os pulmões, só vai substituir a sua função por um curto período de tempo." Mesmo assim, poderá evitar uma paragem cardíaca e danos cerebrais, devido à privação de oxigénio. 

fonte: Público

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