Os neutrinos, partículas subatómicas capazes de atravessar matéria, vêm de uma galáxia elíptica a quatro mil milhões de anos-luz da Terra.
Uma equipa internacional de cientistas descobriu pela primeira vez no espaço profundo uma origem de neutrinos, partículas subatómicas capazes de percorrer milhões de anos-luz e atravessar toda a matéria.
Em dois estudos publicados na revista Science, prova-se pela primeira vez que neutrinos detectados no Pólo Sul em Setembro do ano passado tiveram origem numa galáxia elíptica a quatro mil milhões de anos-luz da Terra, que gira em torno de um buraco negro super-massivo e é conhecida como 'blazar'.
Os neutrinos foram registados pelo detector de partículas Icecube, que consiste numa rede de mais de 5.000 sensores de luz dispostos numa grelha a mais de um quilómetro de profundidade, enterrado no gelo do Pólo Sul.
Quando um neutrino interage com o núcleo de um átomo, cria uma segunda partícula que, por sua vez, gera um cone de luz azul que é detectado pelo Icecube.
Como a segunda partícula e a luz que gera mantêm o mesmo trajecto do neutrino, é possível aos cientistas detetar onde começou esse trajecto.
O Icecube está sempre a examinar o céu, mas na maior parte dos casos, os neutrinos que detecta são partículas de baixa energia, criadas por colisões de partículas subatómicas provenientes de raios cósmicos com núcleos de átomos na atmosfera terrestre.
Apesar de ser o maior do mundo no seu género, desde que começou a funcionar em 2013, o Icecube só conseguiu detectar 82 neutrinos de alta energia.
Para identificar a origem do neutrino que atravessou o Universo, foi usada uma rede de instituições e investigadores, incluindo os que trabalham com alguns dos maiores telescópios do mundo.
A 'blazar' identificada já é conhecida dos astrónomos, que a designam apenas por uma referência alfanumérica, e caracteriza-se por gerar jactos de partículas altamente energéticas que apontam para a Terra.
Os neutrinos, que os cientistas designam como "partículas fantasma" porque quase não têm massa, são altamente voláteis, praticamente não interagem com a matéria e não são afectadas por campos magnéticos.
É isso que explica que possam percorrer distâncias inimagináveis sem nunca mudar de direcção.
Foi em 1912 que o físico austríaco Victor Hess provou que as partículas ionizadas que os cientistas encontravam na atmosfera vinham do espaço.
A carga energética das partículas dos raios cósmicos podem ser até centenas de milhões de vezes mais poderosas do que os seres humanos conseguem criar, como as que emanam do acelerador de partículas do CERN, na Suíça.
Na Via Láctea não se conhece nada que consiga gerar forças tão poderosas, e a origem dos neutrinos detetados na Terra era até agora um mistério.
fonte: Sábado
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