terça-feira, 29 de junho de 2010

O pai da tese de que vamos viver até aos mil anos vem a Portugal



Aubrey de Grey acredita que dentro de 25 anos o envelhecimento poderá ser erradicado

Para que não haja ruído, a barba de Aubrey de Grey tem uma explicação simples: "a minha mulher gosta", diz ao i na semana em que vem a Portugal falar sobre a sua proposta (científica) para desligar os interruptores do envelhecimento no organismo e permitir ao ser humano viver até aos 1000 anos. Já lhe chamaram profeta da imortalidade, mas o investigador inglês considera-se antes de mais um cientista pragmático. "Não acredito que a falta de financiamento ou a desconfiança nos atrapalhem durante muito mais tempo. Precisamos é de bons resultados em ratinhos, e toda a gente saberá que é possível."

O admirável mundo novo de Grey vai ser sexta-feira debatido no terceiro congresso ibérico de medicina antienvelhecimento e tecnologias biomédicas, em Cascais. Com 47 anos, anda há dez a falar de uma revolução: erradicar o envelhecimento através de técnicas, algumas por inventar, de medicina regenerativa. A ideia surgiu no Verão de 2000, em Los Angeles, depois de conseguir um doutoramento em gerontologia com uma das primeiras peças do puzzle. A Universidade de Cambridge reconheceu o mérito científico da sua teoria de que prevenir os danos do ADN mitocondrial poderiam ser a chave para o aumento da longevidade.

"Percebi depois que todos os tipos de danos que contribuem para o envelhecimento podiam ser resolvidos com intervenções de reparação/manutenção", explica. Desenvolveu então as "Estratégias para Reparar Envelhecimento Insignificante" (SENS), uma proposta terapêutica para atacar sete gatilhos celulares e moleculares, que identificou como responsáveis pelo envelhecimento: as mutações do ADN mitocondrial, mas também outros que provocam mutações ou desgaste celular, e que conduzem a doenças como cancro, neurodegenerativas, ou simplesmente ao enfraquecimento.

"O plano só vai funcionar se implementarmos bem os sete tipos de terapia, porque cada um dos sete tipos de danos (excepto talvez as mutações no ADN mitocondrial) podem matar-nos individualmente", afirma. A certeza tem para já um senão: muitas das terapias ainda estão em estudo, e outras não existem sequer. "Há 50% de probabilidade dos tratamentos estarem a funcionar bem dentro de 25 anos", sublinha o investigador. "E 1000 anos não é um limite", diz. "É só a idade média com que morreríamos se não houvesse envelhecimento e só morrêssemos de acidentes, etc."

Sociedades cada vez mais envelhecidas, pensões insustentáveis e os direitos duvidosos da terceira idade. Para Grey, há razões mais do que suficientes para pôr fim ao envelhecimento. "No princípio, como acontece com todas as novas tecnologias, os tratamentos serão muito caros. Mas é mais caro para a sociedade as pessoas ficarem velhas, doentes e fracas." Ainda assim, antevê uma aplicação turbulenta: "é normal, aconteceu o mesmo na revolução industrial. Mas de um ponto de vista ético, temos de pesar os problemas que vão surgir quando derrotarmos o envelhecimento e os problemas que vamos estar a resolver", diz. Nesta balança, Grey acredita que o adoecer e a morte de 100 mil pessoas por dia valem a aposta que considera uma "obrigação ética."
 
fonte: i online
 

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