domingo, 23 de junho de 2019

Grandes olhos e madeira de tília: os mistérios dos retratos das múmias egípcias


Foram pintados antes ou depois da morte dos homens e mulheres que representam? Investigadores andam à procura das respostas desde o início do século XIX.

São pinturas de rostos de homens e mulheres - a maioria jovens - de olhos exageradamente grandes e com muitos pormenores. Foram encontrados colados na face das múmias descobertas por arqueólogos perto da cidade egípcia de Fayum, no final de 1800. Pouco se sabia sobre as pessoas que representavam, mas recentemente alguns dos mistérios que os retratos encerram foram desvendados.

Em 2003, a conservadora Marie Svoboda assumiu como missão desvendar esses segredos depois de ter começado a colaborar com o Museu Getty, em Los Angeles, conta a CNN. Na vasta e rica coleção da instituição descobriu um pequeno grupo de 16 obras que lhe despertaram a atenção. Eram as pinturas, conhecidas como os retratos de múmias e datadas de 100 a 250 dC.

Svoboda percebeu que a missão deveria ser alargada aos cerca de 1.000 retratos de múmias que existem espalhados pelo mundo. Decidiu, por isso, criar um projeto de investigação internacional, a APPEAR ( Ancient Panel Paintings: Examination, Analysis, and Research) que desde que foi criada - em 2013 - já reúne 41 instituições que têm recolhido informações sobre cerca de 285 pinturas, quase um terço de todos os retratos de múmias conhecidos.

Foram realizados testes que exploram a composição material dos retratos e que foram responsáveis pela revelação de alguns dos mistérios das obras. Caroline Cartwright, da APPEAR, descobriu que 75% das pinturas que estudou foram feitas em madeira de tília, uma árvore que não é originária do Egito. Os pintores dos retratos das múmias terão importado todo o material do norte da Europa.

Um pigmento vermelho identificado nas obras foi rastreado até ao sul de Espanha - o que representa mais um sinal do vasto comércio que sustentou o império egípcio.

Da mesma forma, o uso de índigo nas pinturas indica que o pigmento azul foi produzido em massa e alguns conservadores descobriram pequenas fibras embutidas no corante, o que sugere que este foi reciclado da indústria têxtil egípcia.


Retrato de uma jovem mulher. 90-120 d.C. © The Metropolitan Museum of Art, New York

Obras foram pintadas antes ou depois da morte?

Uma comparação detalhada dos materiais usados ​​nos retratos também revelou detalhes sobre a estrutura social egípcia. Usar folha de ouro nas pinturas estava destinado apenas às classes mais altas, por exemplo.

No entanto, uma das grandes questões que pairava na mente dos investigadores era se os retratos tinham sido pintados durante a vida das mulheres e homens que representam ou após a sua morte.

A maior parte das pinturas representa jovens na faixa dos vinte, trinta e quarenta anos. Foram pintados com olhos exageradamente grandes e podem sugerir que os artistas quiseram dar vivacidade a alguém que morrera recentemente.

No entanto, as tomografias computadorizadas usadas para estudar os interiores das múmias revelaram que as idades dos mortos coincidem em grande parte com as idades dos retratos que lhes correspondem.

Essas descobertas corroboram a tese de que a maioria das pessoas dessa época morria jovem, devido a infeções ou em consequência do parto, explicaram os investigadores.

À medida que o projeto entra no seu seu sexto ano, os investigadores percebem que ainda há muito a descobrir. Como Svoboda disse à CNN, "quanto mais olhamos, mais queremos saber".


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