Com apenas meio milímetro de comprimento, estes seres vivos podem vir a ser os únicos organismos a passar anos de vida na Lua. Resistem a radiação severa e a temperaturas extremamente negativas.
Minúsculos e resistentes, capazes de sobreviverem em temperaturas de -272 até 150 graus Celsius e conhecidos por suportarem mil vezes mais radiação do que aquela que o ser humano consegue suportar. Estes são os tardígrados e serão, neste momento, os únicos habitantes da Lua.
Isto porque a sonda espacial israelita Beresheet - desenhada para ter sido a primeira sonda privada a aterrar no nosso satélite, até que se despenhou, em abril, levava a bordo alguns milhares destes animais. E é provável que tenham sobrevivido ao impacto -- e ao vácuo do espaço -- não tivessem eles a alcunha de "invencíveis".
Nova Spivack, fundador da Arch Mission Foundation, uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é criar "um backup biológico do planeta Terra", disse à revista Wired que tinha muito a perder na missão Beresheet. A sonda levava para a Lua uma "biblioteca lunar", um arquivo do tamanho de um DVD e que continha 30 milhões de páginas de informações, amostras de ADN humano e milhares de tardígrados. "Podem ser a única coisa sobrevivente desta missão", afirmou Spivack.
Descobertos no século XVIII pelo zoólogo alemão Johann August Ephraim Goeze, têm apenas meio milímetro de comprimento e assemelham-se a larvas de oito pernas. Resistentes como nenhuns outros, já foram encontrados em topos de montanhas, em desertos escaldantes e em lagos subglaciais na Antártida.
Os tardígrados foram enviados em estado de hibernação ou de desidratação - o que acontece quando os organismos reconhecem que o ambiente é hostil - mas têm a capacidade de acordar e voltar a hidratar-se. Cientistas já conseguiram "ressuscitar" tardígrados que passaram até 10 anos neste estado desidratado, embora em alguns casos possam sobreviver por muito mais tempo sem água. Em 2007, os cientistas descobriram que os tardígrados inativos são tão resistentes que podem sobreviver à radiação severa e ao vácuo gelado das viagens espaciais.
Lukasz Kaczmarek, especialista em tardígrados e astrobiólogo da Universidade Adam Mickiewicz, em Poznań, disse ser bem possível que os animais tenham sobrevivido ao desastre da sonda na Lua.
"Os tardígrados podem sobreviver a pressões comparáveis às que são criadas quando asteroides atingem a Terra, então um pequeno acidente como este não é nada para eles", afirmou, citado pelo Guardian. "Os animais poderiam sobreviver na Lua durante anos", acrescentou.
Os tardígrados desidratados podem voltar à vida após anos em estado inativo: basta mergulhá-los na água. Depois, tornam-se ativos novamente e alimentam-se e reproduzem-se normalmente. O que para não acontecerá na Lua - até que alguém lhe leve água.
Bela Adormecida ou o segredo da juventude
"Não podem colonizar a Lua porque não há atmosfera nem água líquida", disse Kaczmarek. "Mas poderia ser possível trazê-los de volta à Terra e depois mergulhá-los em água. Deveriam ressuscitar", defende.
Kaczmarek está igualmente a explorar o próprio processo de envelhecimento dos tardígrados adormecidos, através de um modelo que chamou de Bela Adormecida, uma vez que o organismo, quando volta à vida, tem a mesma idade biológica de quando "adormeceu".
Philippe Reekie, um astrobiólogo da Universidade de Edimburgo, concordou que não havia razão para pensar que os tardígrados desidratados não sobreviveriam ao ambiente lunar. "O principal problema na Lua é o vácuo e a alta radiação, mas já se comprovou que os tardígrados sobrevivem a estas condições". resumiu.
No entanto, se os tardígrados estivessem em estado ativo na altura do impacto, poderiam ter morrido. "No seu estado normal, podemos matá-los facilmente", disse. "Matamos muitos deles acidentalmente porque os submetemos a frio extremo de forma muita rápida", acrescentou.
fonte: Diário de Noticias
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