terça-feira, 16 de novembro de 2010

CIA e Casa Branca divergiram no caso das armas de destruição massiva

O Expresso conversou durante alguns minutos com Bill Arlow, antigo porta-voz da CIA, um dos passageiros do Spycruise, o cruzeiro de espiões, iniciativa que debate a ameaça do terrorismo em pleno Mar das Caraíbas.


SpyCruise

Um porta-voz da CIA vive entre a espada e a parede. Bill Arlow sabe disso como poucos, uma vez que ocupou o cargo durante 1997 e 2004, período marcado pelos ataques de 11 de setembro e as guerras no Afeganistão e no Iraque. Todos os dias tinha de saber gerir a curiosidade jornalística sem nunca comprometer o secretismo da agência.

Bill Arlow desconfiava que por muito que se esforçasse podia ser ultrapassado a qualquer momento, isto porque há um elemento incontrolável: o da fuga de informação.

"Quem liberta dados classificados para o exterior fá-lo por várias razões. Podem ser políticas, pessoais (caso de elementos de uma agência que querem denegrir outra agência), de vaidade, pois há pessoas que adoram exibir-se para os jornalistas, ou simplesmente porque acham que estão a fazer o bem. A verdade é que não sabem o mal que fazem".

Vítimas inocentes

O antigo funcionário da CIA, hoje dono de uma companhia de consultadoria que auxilia empresas a gerir a sua imagem, a controlar situações de emergência e eventuais danos, explica como "uma suposta fuga de informação" pode prejudicar inocentes.

"Uma vez o jornal 'The Los Angeles Times' noticiou que a CIA procurava informadores junto da comunidade iraniana na Califórnia. Estamos a falar de milhares de pessoas que visitam frequentemente o Irão, uma vez que têm lá família. Bom, depois dessa notícia, e durante vários anos, muitos desses pacatos cidadãos tiveram sérios problemas com as autoridades sempre que pisavam território iraniano. Isto para não falar das suas famílias. O manto de suspeita tinha-se abatido sobre todos e todos estavam a pagar o preço", contou.

Os problemas de comunicação da CIA não se esgotam nas fugas de informação. Por vezes é a própria agência que não consegue ter uma relação fluida com outros sectores, como por exemplo a administração americana.

Bill Arlow não pode alongar-se em pormenores, mas ainda se recorda do discurso da pista nigeriana que levou à alegação de que Saddam Hussein estaria a desenvolver um arsenal de armas de destruição massiva (alimentado por urânio proveniente daquele país africano). O Presidente Bush incluiria essa alegação no seu discurso do estado da Nação em 2002.

"Nós acreditámos que o ditador iraquiano tinha armas de destruição massiva, mas aquele não teria sido o nosso timing", revelou

Arlow defende que a decisão "pode não ter sido intencional" e explica que o próprio relatório do embaixador Joe Wilson, o diplomata encarregado de viajar até ao Níger para verificar a veracidade da pista ("Niger Yellow Cake"), não é conclusivo quanto à existência ou não de tráfico nuclear com o Iraque.

Bombas de Saddam escondidas na Síria

A certeza de que Saddam Hussein teria mesmo um arsenal de armas de destruição massiva mantém-se. A ser verdade, porque é que até hoje nunca foram encontradas? Bill Arlow desvia o olhar, sorri durante uns segundos e dá por terminada a pequena conversa com um "não vou comentar".
Um ex-agente da secreta, que exigiu anonimato, ouve o diálogo e murmura-nos: "Estão enterradas na Síria, junto ao vale de Beka".

Bill Arlow e dezenas de antigos elementos da CIA, nomeadamente Porter Goss e Michael Hayden, dois ex-directores da agência, participam até sábado no SpyCruise, um cruzeiro de espiões que navega no Mar das caraíbas - uma iniciativa promovida pela Universidade Henley Putnam e que visa debater a ameaça do terrorismo.

O Expresso segue a bordo e publicará online, durante esta semana, crónicas diárias sobre a iniciativa; e na edição impressa de 27 de novembro publicaremos uma reportagem alargada sobre este Spycruise, acompanhada de duas entrevistas exclusivas a Michael Hayden e Porter Goss.

fonte: Expresso

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