segunda-feira, 9 de abril de 2012

Encontradas ruínas de igreja do século XVIII que só durou 34 anos


Escavações permitiram revelar as ruínas e os alicerces da Igreja da Irmandade de São Francisco, em Alhandra 

As obras de construção das novas instalações do centro de saúde de Alhandra revelaram as ruínas e os alicerces da Igreja da Irmandade de São Francisco, que existiu na vila em meados do século XVIII e durou apenas 34 anos. 

Com base nos registos históricos conhecidos, o plano de trabalhos já previa uma intervenção arqueológica, para recolher toda a informação possível sobre o velho templo, que teve uma vida curta, uma vez que foi inaugurado em 1721, mas ruiu completamente com o grande Terramoto de 1755.

As escavações arqueológicas permitiram, ainda assim, reunir dados importantes e no interior do espaço da antiga igreja foram encontradas nove ossadas de pessoas ali sepultadas há quase 300 anos. Não foram, todavia, encontradas lápides que permitissem a sua identificação, mas os arqueólogos do município de Vila Franca de Xira concluíram que alguns dos corpos foram sepultados em caixões de madeira, porque encontraram vários pregos da época setecentista. 

Em paralelo, um antropólogo físico tem feito trabalho de investigação sobre as ossadas agora exumadas e sobre os restos de habitações anteriores à igreja, que terão sido demolidas para a sua construção. Os trabalhos deverão estar concluídos nas próximas semanas.

"Sabia-se que a igreja ruiu com o Terramoto de 1755 e que nunca foi reconstruída", disse ao PÚBLICO o arqueólogo João Pimenta, explicando que as pesquisas documentais efectuadas permitiram apurar que as ruínas subsistiram ao longo dos séculos XVIII e XIX, com a sua progressiva degradação, e que foi já no século XX que foram quase totalmente desmanteladas, com a venda da pedra, da azulejaria e das lajetas que ainda permaneciam no local.

O chamado "quintal de São Francisco" serviu, depois, para outros fins, e até foi ali construído um ringue desportivo sobre os restos dos alicerces da igreja. Segundo Henrique Mendes, também arqueólogo do município de Vila Franca de Xira, a obra do futuro centro de saúde deverá apresentar, depois, alguns materiais de pedra retirados da antiga igreja, como forma de guardar a sua memória neste local. A investigação ali desenvolvida levará também à elaboração de um artigo de divulgação científica que resumirá a importância patrimonial dos vestígios agora postos a descoberto.

Com a conclusão dos trabalhos arqueológicos e antropológicos, será retomada a obra das novas instalações do Centro de Saúde de Alhandra (serve cerca de 15 mil pessoas), estimada em cerca de 1,2 milhões de euros. O Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) tem acompanhado esta escavação e adiantou que as sondagens realizadas em Janeiro permitiram "delimitar com rigor a área com vestígios arqueológicos: o edifício e alguns enterramentos".

"Com os vestígios encontrados não se alterou a percepção inicial de que estamos na presença de uma igreja setecentista e de uma necrópole", acrescenta o Igespar, afastando a tese que terá chegado a ser defendida por outros arqueólogos de que ali poderiam existir igualmente vestígios de uma igreja medieval anterior.

"O Igespar tem acompanhado de perto este processo, quer através de fiscalização, quer de reuniões, no local, com a Câmara de Vila Franca de Xira, tendo em vista assegurar o efectivo registo arqueológico de todas as ocorrências, bem como uma avaliação patrimonial célere", conclui o instituto público.

fonte: Público

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