Por que é que a neve é branca? Existe amor à primeira vista? Os Açores sempre tiveram nove ilhas? Estas e mais 127 perguntas (e correspondentes respostas) compõem Por que Choramos Quando Cortamos uma Cebola?, um livro assinado pelas jornalistas especializadas em ciência Teresa Firmino (Público) e Filomena Naves (Diário de Notícias)
A primeira pergunta que se impõe é: por que choramos quanto cortamos uma cebola?
Teresa Firmino – Quando a cortamos, rompemos-lhe as células dos tecidos e libertam-se umas substâncias, óxidos de enxofre e uma enzima. Há uma série de reacções químicas que transformam essas substâncias em gases, eles chegam aos olhos e com a humidade dos olhos formam-se pequenas gotas, em quantidades mínimas, de ácido sulfúrico. É uma agressão para os olhos. E os olhos, para se defenderem, choram.
O livro pretende desfazer mitos – urbanos e rurais – e explicar às pessoas coisas de ciência de forma simples.
Filomena Naves – Exacto [risos], coisas que a ciência explica melhor que o resto.
A ideia da editora era despertar as pessoas para a ciência?
TF – Creio que sim. Era fazer um livro que tivesse ciência, coisas do dia-a-dia, que fosse interessante e para um público alargado. E também para um público mais jovem, e até mesmo para as crianças, se os pais lerem as respostas e depois adaptarem a forma de explicar.
FN – É um livro para o leitor ir atrás da curiosidade.
Tiveram de investigar muito. As coisas não são tão simples quanto aparecem lá escritas…
FN – Não. Conversámos, almoçámos com amigos, fomos apontando perguntas…
TF – E, ao pesquisarmos a resposta, por vezes encontrámos uma pergunta melhor. Foi dinâmico.
Acabaram por ter de agrupar as perguntas em áreas diferentes.
FN – Decidimos logo que tinha de haver áreas. Porque às tantas já tudo era uma pergunta.
O que vos surpreendeu mais, no meio das várias pesquisas?
FN – Gostei de uma pergunta a que respondeste, por que é que a comida não pega numa frigideira que tenha teflon. É uma história mirabolante, que tem a ver com a bomba atómica. Eles andavam à procura de um material que pudesse permitir fazer a separação do urânio, que fosse anticorrosivo. E pediram a uma empresa que lhes fizesse esse material. E eles apresentaram-no no dia seguinte. Já o tinham, só não sabiam o que lhe haviam de fazer… Era um material completamente anti-aderente.
TF – Também gostei de outra a que respondeste, a do amor à primeira vista. Quando conhecemos uma pessoa, há substâncias no cérebro, sinais olfactivos e visuais, que nos provocam uma série de reacções no cérebro e percebemos, no fundo, se aquela pessoa nos interessa ou não. Se isso se traduz, mais tarde, nalguma coisa, isso já é outra história. Mas há outras coisas divertidas.
FN – Por exemplo, aquela história da muralha da China ser a única construção humana que se vê da Lua. Onde é que aquilo nasceu? É um mito. Aquilo vem de um autor do século XIX que foi à China e veio de lá com essa ideia. Ele escreve depois, num livro que publicou, que é a única construção que se vê da Lua.
As pessoas atribuem a frase aos primeiros astronautas que puderam observar a Terra…
FN – Não, ela é bem anterior a isso. Claro que quando os astronautas chegaram à Lua não viram nada [risos].
TF – Também me surpreendeu aquela pergunta sobre se o número de amigos que temos aumentou com o aparecimento das redes sociais. A resposta é não, temos uma espécie de limite cognitivo para esse número de amigos, no sentido lato do termo, não só os próximos mas também pessoas com quem temos relações significativas. Houve um investigador português que trabalha nos EUA que concluiu que não – o número de amigos é mais ou menos o que existia antes.
Que é?
TF – Uns 150. É a proposta de um investigador britânico. Também gostei daquela pergunta, por que nos parece tão diferente a nossa voz ouvida nos gravadores.
FN – Tem a ver com a forma como ouvimos. O som também se transmite por vibrações. Por isso, também se transmite através dos ossos. E o que é engraçado é que os ossos, pela natureza dos tecidos, propagam melhor os sons graves. Portanto, ouvimos a nossa voz mais grave. Somos os únicos que ouvimos a nossa própria voz tal como ela não é [risos].
Há também a história da 10.ª ilha dos Açores, que durou três meses, de Julho a Outubro de 1811. Como chegaram a ela?
TF – Tinha ido a um congresso de geologia há uns 15 anos. E lembrei-me de ter ouvido falar dessa ilha e que, se calhar, um geólogo meu amigo nos poderia ajudar. A partir daí pesquisámos e encontrámos muita coisa.
A história tem pormenores diplomáticos curiosos. Era na altura das invasões napoleónicas, a costa estava patrulhada por ingleses, que cederam à tentação de lá deixar uma bandeira…
TF – Eram amigos, mas… [risos].
Como dizem no livro, foi a natureza que resolveu o conflito, quando a ilha se afundou …
TF – Quer dizer que a natureza pode resolver conflitos diplomáticos.
FN – Mas o autor da façanha não pôs isso na comunicação científica que publicaram sobre a ilha [risos]. Este livro tem uma série de histórias diferentes, algumas muito engraçadas.
fonte: Sol
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