domingo, 6 de novembro de 2011

Astronautas que simularam missão a Marte saíram da toca


A tripulação Mars500, à saída da sua nave de faz de conta

Pálidos e sorridentes, os seis homens que passaram 520 dias debaixo de um hangar nos arredores de Moscovo a fingir que estavam a fazer uma viagem até Marte saíram sexta-feira da sua nave a fingir - e desejosos de fazer a viagem a sério até ao planeta mais próximo da Terra. "Estamos prontos a embarcar na próxima nave!", disse o francês Romain Charles, ao sair da experiência Mars500.

O objectivo da experiência era avaliar a reacção de um grupo de pessoas confinado aos múltiplos stressores de um espaço limitado (550 metros cúbicos), num isolamento de longa duração, como o que será necessário para viajar até Marte. Numa nave espacial, se um tripulante se zangar com outro, não pode simplesmente abrir a porta e ir-se embora dali. 

Normalmente, os astronautas conseguem relacionar-se bem, mas não é inédito que as coisas corram mal. Em Setembro, a revista "New Scientist" recordava o caso de dois cosmonautas russos que, numa missão de longa duração, em 1982, se deram tão mal que deixaram de falar um com o outro durante a maior parte dos 211 dias que passaram na estação espacial Saliut. Ficaram calados no espaço.

Aliás, um anterior simulacro de viagem a Marte acabou mal em 2000, quando dois participantes se embebedaram e desataram aos murros um ao outro e um terceiro tentou forçar uma tripulante a beijá-lo.

Para além das questões psicológicas existem as biológicas - a radiação cósmica a que estariam sujeitos os astronautas que viajassem até Marte (a distância da Terra varia entre 56 e 399 milhões de quilómetros, consoante o ponto das órbitas em torno do Sol, e isso contando só com a viagem de ida). Ainda não existe tecnologia capaz de proteger os nossos corpos dessa radiação. 

Com todas as limitações, a experiência Mars500, controlada pelo Instituto de Problemas de Biomedicina da Academia de Ciências da Rússia, foi a simulação mais realista até agora de como seria uma viagem até Marte.

Rabanetes espaciais

A 3 de Junho, um grupo de seis homens de várias nacionalidades entrou para um módulo subterrâneo, onde não entrava luz do Sol. Só consumiram comida de astronauta (com alguns alimentos frescos cultivados sem solo, através de técnicas de hidroponia, como tomates e rabanetes). 

"Senti mesmo uma distância física entre nós e as pessoas no centro de controlo. A razão dizia-me que estavam só a 20 metros de distância, mas a minha cabeça não conseguia aceitar isso", escreveu Romain Charles numa mensagem enviada à Reuters na véspera do "regresso" à Terra.

As competências dos "martonautas" são semelhantes às que se desejariam para os primeiros homens enviados para Marte: Charles é um engenheiro mecânico francês de 31 anos; Sukhrob Rustamovich Kamolov, um cirurgião russo de 37 anos especializado em problemas de circulação sanguínea e doenças relacionadas com isolamento de longa duração; Alexei Sitev, um engenheiro naval russo de 38 anos especializado em sistemas de apoio à vida; Alexandr Smoleevski, de 32 anos, também russo, médico militar que faz investigação em bioquímica, fisiologia e farmacologia; o italiano Diego Urbina, de 27 anos, engenheiro electrotécnico, que se treinou como astronauta na Agência Espacial Europeia; e o chinês Yue Wang, de 27 anos, que recebeu formação de astronauta.

Durante os 520 dias em que estiveram a simular a viagem a Marte, realizaram mais de 100 experiências, cujos resultados devem começar agora a ser publicados. As suas tarefas incluíram um passeio na superfície "marciana", que era na verdade um espaço com areia, onde testaram um fato espacial mais leve, para simular a gravidade reduzida de Marte.

fonte: Público

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