segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Não passamos de peixes


É considerado o elo perdido da evolução. Até há bem pouco tempo, a ciência não conseguia deslindar o mistério que terá levado os organismos vivos a saírem dos meios aquáticos – de onde se presume ser originária a vida na Terra – e a fixarem-se em terra firme, em busca de outros ares (literalmente) e de uma variação importante no cardápio.

O enigma só se resolveu quando os biólogos descobriram certos peixes dotados de estrutura óssea e, sobretudo, de pulmões.

Estes anfíbios evoluíram para um animal com forma de peixe e de quatro patas, que se movimentava à vontade fora de água. Era um tetrápode, antepassado de todos os animais de quatro patas e também nosso ancestral distante.

Para entender um pouco mais sobre essa passagem – afinal, o elo já não é perdido – uma equipa de investigadores australianos decidiu estudar três espécies de peixes com estrutura óssea e pulmões que habitam em águas doces no seu país, além de um espécime norte-americano. Afinal, os dados à disposição de espécies desaparecidas vinham de esqueletos. Os músculos necessários para a locomoção não se conservam, daí que os cientistas tivessem de se virar para espécies existentes.

Os peixes dotados de pulmões – os chamados dipnóicos –, escusado será dizer, são capazes de respirar fora de água e de aí passar boas temporadas. As barbatanas pélvicas servem-lhes de patas, tal como já acontecia com o nosso antepassado comum, o peixe anfíbio que, há cerca de 400 milhões de anos, se aventurou para terra e que nunca mais voltou ao mar.

Os que sobraram até aos dias de hoje servem de pista útil, e a equipa centrou-se também em duas espécies de tubarão da Austrália para dar um rumo mais seguro à investigação. «Começámos por examinar a forma como as diferentes espécies destes peixes geraram os músculos das suas barbatanas pélvicas, que são os ancestrais dos membros posteriores», explica Peter Currie, o coordenador do projecto, ao site especializado Science Daily.

A equipa modificou geneticamente alguns exemplares destes peixes em laboratório para identificar o modo como as células precursoras dos músculos evoluíam desde a formação do corpo dos dipnóicos. E descobriu que essa evolução era particularmente diferente nos peixes dotados de pulmões, quando comparada com os que não têm capacidades anfíbias.

Esse percurso celular até à formação de pulmões e membros posteriores é, então, a chave para se perceber o nosso antepassado comum. E por ‘comum’ leia-se um peixe ancestral que decidiu deixar de o ser. «Os seres humanos são apenas peixes modificados», conclui Currie.

fonte: Sol

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