sábado, 2 de abril de 2011

Ciência e Deus 'podem conviver pacificamente'


Ciência e religião são «domínios do ser humano que estão separados», mas que «podem conviver pacificamente», embora a história revele que isso nem sempre tem sido possível, defendeu hoje, em Coimbra, o cientista Carlos Fiolhais.

O físico e catedrático da Universidade de Coimbra (UC), que falava no colóquio «Ciência e Deus 2011», promovido pelo grupo Fé e Razão na Academia (FRA), admite que ciência e religião podem não só conviver como até «enriquecer-se mutuamente», apesar de, sublinha, serem «actividades distintas».

«Ciência e religião respondem a ânsias fundamentais» do ser humano e chegam mesmo a ter «pontos comuns entre si, mas são diferentes», insiste Carlos Fiolhais, que sustentou esta posição na sequência de questões que lhe foram colocadas por participantes no colóquio, que decorreu hoje na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC.

Na sua conferência, o cientista e director da Biblioteca Geral da UC deteve-se naquilo em que «crê um cientista», tendo salientado, designadamente, que «os cientistas acreditam que é sempre possível saber mais», mas que «nunca saberão tudo», o que significa - ironizou - que «esta profissão nunca terá desemprego».

Sobre «como conciliar Ciência e Deus» dissertou o padre Vasco Pinto Magalhães, considerando que «nada ajuda mais um crente que a ciência» e «nada ajuda tanto a ciência como uma saudável crença em Deus».

Mas a conciliação entre Ciência e Deus nem sempre tem sido possível e têm mesmo existido períodos de conflito entre si, reconheceu Vasco Pinto Magalhães.

Desde logo, acrescentou, por falta de clarificação dos conceitos de Ciência e Deus ou das «imagens e visões de Deus», que também têm «atrapalhado o ecumenismo».

«Não se podem fazer leituras à letra da Bíblia», de «textos que são metáforas», apelou Vasco Pinto Magalhães, referindo que esse tipo de interpretação tem suscitado muitos «mal-entendidos».

Mesmo numa leitura enquadrada «contextual e historicamente», há «contradições na Bíblia», disse o conferencista, considerando que não se pode ler a Bíblia «sem a hermenêutica» - e esta, recorda, é uma ciência.

«A ciência pode avançar o que puder e quiser, mas de Deus nada poderá dizer», sustentou Vasco Pinto Magalhães, advogando que esta perspectiva «não retira nada ao cientista», apenas o remete ao seu âmbito.

«A absolutização da ciência é um perigo», alertou, considerando que não há paradoxo pensar-se que «a ciência pode avançar e que tem os seus limites, o seu âmbito».

O colóquio de hoje sobre Ciência e Deus foi a primeira iniciativa pública do FRA, grupo de investigadores e docentes da UC católicos, criado «há mais de um ano».

«Não queremos demonstrar nada, mas aprofundar, enquanto cientistas e católicos», o debate sobre «como somos desafiados a viver esta aparente dualidade», disse a bioquímica Inês Miranda Santos, uma das fundadoras do FRA.

Ciência e Deus «não são coisas paralelas, são complementares», acrescentou Inês Miranda Santos, sublinhando que a ciência não é uma heresia.

fonte: Sol

Sem comentários:

Enviar um comentário