sábado, 9 de outubro de 2010

Gravidade e rotação irregular podem explicar oceano de Encélado

Oscilação na rotação da lua de Saturno permite explicar energia que impede congelamento total


Visão em perspectiva de uma das rachaduras no polo sul da lua de Saturno

Localizada nos confins gelados do Sistema Solar, a lua Encélado, de Saturno, deveria estar totalmente congelada. Com uma temperatura de -198º C, a superfície da lua realmente está tomada pelo gelo, mas ainda assim o astro dá sinais de conter água em estado líquido.

Diferentemente de Europa, uma lua de Júpiter com cerca de 3.000 km de diâmetro, Encélado é pequena demais, com apenas 750 km, para que seu interior tenha preservado calor suficiente para sustentar um oceano subterrâneo. Mas, em 2005, a sonda Cassini, da Nasa, descobriu uma gigantesca pluma de água emitida por rachaduras no polo sul da lua, indicando a presença de um reservatório de água sob o gelo.

A análise da pluma revelou que a água é salgada, o que indica que o reservatório é amplo, talvez até mesmo um oceano global abaixo da superfície. Cientistas estimam, a partir dos dados da Cassini, que o aquecimento no polo sul equivale á liberação contínua de 13 mil milhões de watts.

Para explicar o calor misterioso, alguns cientistas propõem uma associação entre radiação e aquecimento por maré. Se, durante sua formação, Encélado agregou grandes quantidades de rocha com materiais radioactivos, calor suficiente poderia estar sendo gerado pelo decaimento desses elementos.

No entanto, em luas pequenas como Encélado o reservatório de material radioactivo não costuma ter massa suficiente para produzir calor significativo por muito tempo. Esse facto levou investigadores a considerar a hipótese de aquecimento por maré. O efeito, causado pela gravidade de Saturno, é semelhante ao que provoca as marés nos oceanos da Terra, causados pela gravidade da Lua.

No caso, a variação na atracção de Saturno, à medida em que Encélado se aproxima ou se afasta do planeta, em sua órbita levemente oval, deforma a lua, gerando calor por fricção no interior do astro.

Essas marés gravitacionais também causam as rachaduras em certas partes da superfície. O stress gravitacional pode abrir e fechar as lacunas, enquanto faz com que suas bordas entrem em atrito e se aqueçam.

Para testar a teoria do aquecimento por maré, a equipa da Cassini fez um mapa dos stresses gravitacionais na crosta gelada da lua e o comparou com um mapa das zonas quentes. Os investigadores esperavam uma sobreposição dos dois.

"No entanto, eles não batem exactamente", disse, em nota, o investigador Terry Hurford, do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa. "Por exemplo, na fissura chamada Damascus Sulcus, a área que experimenta a maior quantidade de movimento fica a cerca de 50 km da zona de maior temperatura".

Hurford e sua equipa acreditam que a discrepância pode ser resolvida se a taxa de rotação da lua não for uniforme, e se ela oscilar um pouco enquanto gira. Essa oscilação, ou "libração", é quase imperceptível. De acordo com os dados da Cassini, não pode ser maior que 2º.

Uma simulação de computador determinou que as áreas de grande stress alinham-se com as de maior temperatura numa faixa de libração que vai de 0,75º a 2º.

fonte: Estadão

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