sexta-feira, 24 de junho de 2016

Aves são ‘tão inteligentes’ quanto primatas, diz pesquisa



Tradicionalmente considerados as criaturas mais inteligentes da vida selvagem, os primatas agora terão que dividir esse crédito com as aves. Pelo menos é o que diz um estudo publicado na edição de ontem do periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences”. 

De acordo com a pesquisa da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, corvos, araras e papagaios, apesar de terem cérebros significativamente menores que os de muitos primatas, contam com uma impressionante densidade de neurónios povoando esse espaço ‘compacto’.

— O cérebro dos pássaros é pequeno, mas vemos ali uma grande concentração de neurónios, superior à conhecida em muitos mamíferos — destaca Suzana, que apresentaria o estudo no Congresso Mundial sobre o Cérebro, em Buenos Aires, mas teve seu voo cancelado e não pôde participar do evento. 

— As aves desenvolveram comportamentos cognitivos complexos: têm discernimento para resolver problemas, reconhecem-se em um espelho e se planeiam para necessidades futuras, entre outros papéis que considerávamos exclusivos dos primatas.

O estudo de Suzana confirma outro realizado com pombos há dois anos, que demonstrou que a ligação de neurónios — e, portanto, o funcionamento de todo o cérebro — nas aves era semelhante à de mamíferos.

Agora, a neurocientista pretende estudar a relação entre o número de neurónios das aves e o custo metabólico para que as espécies realizem suas atividades. Estima-se que a quantidade de energia demandada pelo cérebro para a realização de atividades seja maior entre as aves do que aquela observada entre os mamíferos.

Este é o primeiro estudo publicado por Suzana desde que ela trocou a UFRJ pela Universidade Vanderbilt, em Nashville, nos EUA (o trabalho já estava pronto quando ela deixou o Brasil). A neurocientista saiu do país criticando abertamente a falta de recursos públicos para a ciência e a inovação, o que motiva a “fuga de cérebros” para o exterior.

— Meu novo laboratório é de três a quatro vezes maior. A verba também nem se compara — garante a cientista. — Em breve, duas estudantes do pós-doutorado que trabalhavam comigo no Rio virão para cá.

fonte: O Globo

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