quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Lémur com sete milhões de anos é, afinal, um peixe



O único fossil da espécie conhecida como lémur-sem-nariz

Durante 114 anos, os cientistas pensaram que um fóssil com sete milhões de anos encontrado na América do Sul era de um primata, mais concretamente, um lémur. Desde sempre foi considerado uma curiosidade porque era o único espécime no mundo. Agora percebe-se a razão: afinal, é um peixe.

Classificada como mamífero desde que foi descrita, em 1898, a espécie Arrhinolemur scalabrinii (lémur-sem-nariz) vai, finalmente, ter o seu lugar correcto entre os peixes, depois de uma análise detalhada feita por cientistas da Universidade Maimónides, em Buenos Aires, da Universidade Estatal de Oregon e do Instituto Smithsonian. Os resultados da sua pesquisa foram publicados na revista Neotropical Ichthyology.

“Não é raro ver uma espécie ser reclassificada num género diferente, mas não é tão frequente ver uma passar para uma classe totalmente diferente”, disse em comunicado Brian Sidlauskas, especialista em peixes do Departamento de Pescas e Vida Selvagem da Universidade Estatal de Oregon e co-autor do estudo. 

A curiosa história do Arrhinolemur scalabrinii começa em 1898, quando o “caçador” de fósseis Pedro Scalabrini entregou um pequeno fóssil encaixado numa rocha ao investigador Florentino Ameghino. Num exame ao fóssil, Ameghino atribuiu-o à famíliaLemuridae e escreveu sobre as suas diferenças em comparação com outros mamíferos. Propôs, então, que fosse reconhecido como sendo de uma nova ordem de mamíferos bizarros, umArrhinolemuroidea. E assim, o único exemplar de Arrhinolemur scalabrinii foi registado.

Meio século mais tarde, o cientista George Gaylord Simpson olhou de novo para o fóssil e propôs que fosse considerado, não um mamífero, mas uma espécie ainda desconhecida de peixe. Em 1986, Alvaro Mones, do Museu Nacional de História Natural da Argentina, levou a suspeita um passo mais longe e sugeriu que oArrhinolemur scalabrinii poderia estar relacionado com uma família de peixes tropicais de água doce, a Characidae.

Em 2010, os cientistas argentinos Sergio Bogan, da Universidade Maimónides, e Federico Agnolin, do Museu de Ciências Naturais Bernadino Rivadavia, decidiram resolver a questão de uma vez por todas. Pediram os conselhos técnicos de especialistas em peixes, nomeadamente do Instituto Smithsonian, analisaram dentes e os ossos do crâneo e chegaram à conclusão que o lémur-sem-nariz é um peixe do género Leporinus, da famíliaAnostomidae.

Os cientistas consideram que clarificar o registo deste fóssil os ajuda a calibrar a árvore da vida e a compreender melhor a biodiversidade do planeta no passado, comparando-a com a actual. Além disso, ajuda a analisar as transições evolutivas.

fonte: Público

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