sábado, 1 de setembro de 2012

Borboleta monarca, a rainha da migração


Apesar de sua frágil aparência, meio grama de peso, a borboleta monarca percorre em cada outono milhares de quilómetros desde os Estados Unidos e Canadá até as florestas temperadas do centro do México na busca de melhores climas.

O trajeto da borboleta monarca, condicionado pelas inclemências do tempo e infestado de predadores, termina na Reserva Natural da Biosfera da Borboleta Monarca, nos estados de México e Michoacán (México), onde estes coloridos insetos instalam seus santuários de hibernação entre pinheiros e abetos.

Uma geração singular que vive cinco vezes mais do que o normal e uma orientação infalível baseada na posição do sol tornam possível a viagem que estas borboletas realizam, que oscila entre os 2.000 e os 4.500 quilómetros de distância.

Embora não seja o único animal que se transfere de um lugar para outro, ocupa o primeiro lugar do pódium por ser o que maior distância percorre em relação a seu tamanho, segundo explica o especialista Eduardo Rendón, coordenador do programa que a Aliança do Fundo Mundial da Natureza (WWF, na sigla em inglês) e a companhia Telcel têm na reserva.

"Outros animais como o grou, a baleia e o salmão também fazem longas viagens, mas a borboleta monarca é a que tem maior alcance em comparação com suas dimensões", diz Eduardo.


Uma pessoa de 70 quilos teria que dar 14 mil voltas ao redor da Terra para transitar uma distância equivalente à percorrida por estes pequenos insetos, que medem pouco mais de dez centímetros com as asas abertas.

Longevidade e orientação

Como se fossem folhas secas das árvores, milhões de borboletas recebem o visitante no santuário de Cerro Pelón, na parte mexicana (estado) da reserva.


Para evitar que sejam molestadas durante sua hibernação ou alertar às autoridades para a poda ilegal de árvores, vários membros da comunidade vizinha de San Juan Xoconusco realizam tarefas de vigilância pela área.

Aos 56 anos, Melquiades Moreno, conta cheio de orgulho que conhece a colina como a palma de sua mão e explica que há 29 anos cuida das borboletas. "Temos que estar em alerta para que não lhes atirem nada, nem paus, nem pedras, que não as incomodem e que as deixem descansar", explica.

As borboletas que chegam em novembro ao México fazem parte da denominada geração "Matusalém", uma variação da espécie que vive até sete ou oito meses, o tempo necessário para chegar do norte, passar o inverno e iniciar a viagem outra vez. "Seria como se uma pessoa de 75 anos tivesse cada quatro gerações um parente que vivesse 575 anos", diz Eduardo.

No entanto, este curioso fenómeno da natureza só acontece coincidindo com a viagem de ida, pois durante o regresso, na primavera, são necessárias quatro gerações para alcançar as florestas do sudeste do Canadá e leste dos Estados Unidos.

Além disso, um sentido privilegiado da orientação lhe permite viajar por territórios desconhecidos servindo-se da trajetória do sol e de uma grande capacidade de armazenamento de energia.

Todas estas qualidades lhes facilitam a viagem e a instalação na reserva, onde devem enfrentar as inclemências do tempo, a presença de predadores e a existência de doenças e infecções que podem acabar com ela. "O clima está determinando mudanças. As rotas não acho que se modifiquem, mas como bons insetos pode ser que haja oscilações no número", indica.

Desenvolvimento social

A estas complicações é preciso acrescentar os conflitos que surgiram com os donos das florestas quando a reserva foi declarada zona protegida, onde costumavam comercializar madeira e cultivar nos descampados que iam se formando depois do corte.


"Antes da reserva, embora a borboleta chegasse não lhe dávamos tanta importância e iam e decepavam as florestas, mas agora há mais segurança", admite o presidente do comissariado dos bens comunais de San Juan Xoconusco, Felix Solis.

Este pai de família de 40 anos faz parte da Associação Vivero Forestal "As Namoradas do Sol", que cultiva pinheiros, abetos e cedros para reflorestar as clareiras originadas pelo corte clandestino e aumentar a densidade da floresta da região.

A produção de fungos, as oficinas de artesanato e os centros de transformação de madeira procedente do manejo florestal sustentável são alguns exemplos das novas atividades realizadas na região, impulsionadas pela Aliança WWF-Telcel.

No Ejido Asoleadero, na parte michoacana da Reserva, junto ao denominado Cerro del Campanario, 15 mulheres trabalham num pequeno centro de elaboração de artesanato onde realizam figuras cuidadas com madeira obtida do corte controlado das árvores.

"Graças à oficina pude voltar ao Ejido e ficar com meus filhos, antes só podia retornar a cada quatro meses porque trabalhava a 500 quilómetros daqui", relata a presidente do grupo, Sonia Valencia, viúva e mãe de 4 filhos.

A reserva inclui 59 ejidos (porção de terra propriedade comum de um povoado), 13 comunidades indígenas e 21 pequenas propriedades com ascendência Matlalzinca, Purepecha, Mazahua e Otomí. Em alguns destes lugares existe a lenda de que as borboletas encarnam a alma dos defuntos, que coincidindo com o Dia dos Mortos, em 1º de novembro, voltam para seus entes queridos.

"A princípio foi difícil fazer a área protegida ser respeitada porque os moradores tiveram que se adaptar a um uso totalmente diferente da floresta", explica Eduardo.

No entanto, apesar de seu pequeno tamanho e das complicações que sofre durante a viagem e a hibernação, a cada ano a borboleta monarca chega pontualmente a sua reunião de inverno nas florestas do México.

Asela Aviar - Reportagens Especiais da EFE

fonte: MSN VERDE

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