segunda-feira, 16 de julho de 2012

Historiador diz que Salazar saberia do golpe aéreo de que foi alvo em 1961

Super Constellation, Lisboa (Museu da TAP, 195...)

Um historiador descobriu novos dados sobre o desvio de um avião da TAP por Palma Inácio em 1961, para muitos o primeiro ato de pirataria aérea, nomeadamente que Salazar teve atempadamente conhecimento do golpe.

A descoberta consta do livro de Luís Vaz, historiador que está a registar a história do antifascista Hermínio da Palma Inácio, já falecido, e que para esta obra reuniu os quatro membros sobreviventes do comando que desviou o 'Super-Constellation' da TAP 'Mouzinho de Albuquerque', em 1961, com o objectivo de derrubar Salazar.

À agência Lusa, Luís Vaz confessou que ficou surpreendido com «a lucidez com que os quatro membros do comando vivos – Fernando Vasconcelos, Amândio Silva, João Martins e Camilo Mortágua - contaram os pormenores de mais esta acção contra Salazar e a maneira simples e pacífica como decorreu, a qual surpreendeu os próprios operacionais».

Baptizada de 'Operação Vagô', a acção consistiu no embarque dos 'piratas do ar', em Casablanca, num voo que fazia a rota Lisboa-Tanger-Casablanca, tendo como objectivo o lançamento de milhares de panfletos contra o regime e a «burla das eleições», ao sobrevoarem Portugal antes do regresso a Marrocos.

O historiador revelou que, no decorrer da investigação, descobriu como «as representações diplomáticas no estrangeiro funcionavam com extensão do regime».

«No dia 10 de Outubro de 1961 [um mês antes], o Ministério dos Negócios Estrangeiros teve a informação de que a Embaixada de Portugal em Rabat avisou que elementos de Henrique Galvão preparavam, para o dia 13 do mesmo mês, o assalto ao avião da TAP em Casablanca ou em Tânger. Logo transmitiu esta informação à PIDE e ao director da TAP, que imediatamente encarregou o comandante José Sequeira Marcelino de tomar as medidas de defesa em colaboração com a polícia internacional e a Força Aérea Portuguesa», contou.

Por esta razão, «a tripulação do avião foi reforçada, levando no avião que partiu de Lisboa rumo a Marrocos, com aterragem nas cidades de Casablanca e Tânger, paraquedistas armados, sentados junto à entrada da porta que dá acesso à cabine de comando do avião. Foram ainda armados todos os elementos que constituíam a tripulação, num claro atentado às normas internacionais de segurança», adiantou o autor.

Passado meio século, e durante um encontro promovido pelo historiador, Luís Vaz encontrou os sobreviventes da 'Operação Vagô' «obviamente mais velhos, mas com a mesma convicção».

«Na sua simplicidade e modéstia afirmaram que fizeram o que deveria ser feito e mais nada», disse o autor do livro 'Palma Inácio e o desvio do avião (1961)' .

Luís Vaz constatou ainda que «todos eles passam por um grande desencanto com o que se passa hoje no país e não têm complexos de voltar à acção, se for caso para isso, mesmo com a idade avançada que têm».

No decorrer da investigação para o livro, editado pela Âncora Editores e que será lançado terça-feira, numa cerimónia em Lisboa que contará com a presença de três dos quatro elementos do comando ainda vivos, Luís Vaz deslocou-se a Marrocos, acompanhado de Camilo Mortágua.

«Tentámos percorrer os trajectos de há 50 anos, visitar as residências onde se fixaram, os cafés onde conspiraram, o hotel em Casablanca onde se radicou o general Humberto Delgado e os portos marítimos para onde se deslocavam, pretendendo fazer crer à PIDE que se preparavam para tomar mais um barco tipo Santa Maria II», contou.

Com este regresso ao passado, que está a ficar registado em livros, através dos quais Luís Vaz conta escrever a história e os golpes de Hermínio da Palma Inácio, o historiador pretende mostrar que «a liberdade restituída em 25 de Abril só foi possível pela acção destes e de outros antifascistas e que esta não é, nos tempos que correm, um valor definitivamente adquirido».

fonte: Sol

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