sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sequenciar o genoma de 100 pessoas num mês. O concurso (im)possível começa hoje


Um dos objectivos é descobrir os segredos da longevidade 

Desengane-se quem possa achar o desafio fácil. Arranca hoje um concurso que premiará com dez milhões de dólares (quase oito milhões de euros) o laboratório que consiga sequenciar o genoma de 100 pessoas centenárias no prazo de um mês. Além deste prazo, os concorrentes terão de respeitar o limite de custos: 1000 dólares (menos de 800 euros). A ideia remonta a 2006 mas ainda ninguém conseguiu atingir o objectivo – apesar de o prémio ter sido simplificado.A corrida ao Prémio X, coordenado pela Fundação Archon Genomics X, dos Estados Unidos, e financiado pela gigante da indústria farmacêutica Medco Health Solutions, começa hoje e termina a 13 de Fevereiro. E os interessados não só terão apenas 30 dias para sequenciar os genes de 100 pessoas como o objectivo é que se concentrem em casos de indivíduos que vivem até aos 100 anos ou mais.

O repto foi lançado pela primeira vez em 2006 e, na altura, tinha objectivos ainda mais ambiciosos. Pretendia-se desvendar os genes de 100 pessoas, mas em apenas em dez dias. Já os custos podiam ser superiores: dez mil dólares por cada um. Na altura houve oito organizações a responderem ao desafio, mas nenhuma conseguiu levar a missão até ao fim.

De acordo com um comunicado da Medco Health Solutions, o concurso pretende estimular as organizações a investirem naquilo que consideram ser o futuro da “medicina personalizada e preditiva” e que passa, naturalmente, por conhecer cada vez mais os genes dos doentes. Por isso, o trabalho dos concorrentes será muito escrutinado, no que diz respeito aos custos, precisão, velocidade e sequenciação completa do genoma.

“O objectivo desta competição é estimular a indústria a desenvolver, de forma mais precisa, rápida e custo-efectiva estas tecnologias de sequenciação”, explicou numa nota um dos responsáveis pelo projecto, Craig Venter, que em 2010 produziu a primeira célula viva com genoma sintético. 

Venter ficou também na história da genética quando, a 26 de Junho de 2000, a Ciência desvendava um mistério há muito aguardado: a sequenciação do genoma humano. Na mesma altura, concluíam o trabalho, nos EUA, duas equipas – uma pública liderada por Francis Collins, e outra privada, dirigida por Craig Venter, que foi o inventor do sistema de descodificação mais rápido. 

“Enquanto muitas novas tecnologias foram desenvolvidas durante a última década e muitos genomas humanos foram sequenciados, continua a não haver uma tecnologia que seja capaz de produzir, de forma muito precisa, a reprodução do genoma humano para fins de diagnóstico e de tratamento médico”, acrescentou agora Venter.

“Esta competição coloca-nos um passo mais perto de concretizar a promessa de verdadeiramente personalizarmos a medicina. Com a selecção de centenários como pioneiros do genoma, esta competição coloca uma ênfase tremenda na oportunidade de descobrir os genes ‘saudáveis’ e, dessa forma, descobrir como prevenir doenças e viver uma vida longa e saudável”, comentou Thomas Perls, professor de Medicina e Geriatria na Escola de Medicina da Universidade de Boston, a propósito do concurso.

E para a pressa não ser inimiga da perfeição, os responsáveis pelo desafio alertam que a taxa de erro não poderá ser superior a um par de bases por milhão de pares lidos. As bases são as “letras” que compõem o ADN (Adenina, Citosina, Guanina, Timina) e ligam-se por pares. A molécula de ADN humano (ácido desoxirribonucleico) contém 3 mil milhões de pares de bases, sendo um par de bases um conjunto de dois nucleótidos (compostos que auxiliam os processos metabólicos) opostos e complementares na cadeia de ADN.

Para a competição ter validade científica e mais significado para o público em geral, cada grupo poderá contar com o ADN de 100 centenários que doaram o seu genoma para investigação científica. “Sequenciar o genoma de 100 centerários – o que equivale a mais de dez mil anos de vida – é uma perspectiva entusiasmante que fará a investigação médica avançar. Os resultados, desejavelmente, serão as mais precisas e completas sequenciações de genomas humanos alguma vez conseguida”, sublinhou Craig Venter.

Se o concurso for bem-sucedido, a fundação responsável pelo Prémio X criará uma base de dados em que cientistas de todo o mundo poderão ter acesso à informação conseguida, para que os segredos da longevidade continuem a ser estudados em todo o mundo e se traduzam em benefícios na prática clínica.O concurso é feito numa altura em que em Portugal, no final do ano passado, foi lançado o Porgene, um projecto nacional de sequenciação e análise do genoma humano que arrancou no Centro de Inovação em Biotecnologia (CIB) do BioCant, em Cantanhede, e que tem como objectivo construir uma base de dados de uma centena de pessoas em 2012. Porém, a meta final é "sequenciar o genoma de toda a população portuguesa". 

fonte: Público

Sem comentários:

Enviar um comentário