domingo, 18 de julho de 2010

Computadores e consolas aumentam tendinites no pulso


Já não são só as pessoas que trabalham em fábricas de linha de montagem de automóveis ou nos têxteis que sofrem de problemas no pulso. A dependência do rato do computador fez disparar os casos de inflamações nos tendões da mão.

"Eram umas dores horríveis. Não conseguia fazer nada, nem pegar na minha filha de dois anos." Rita Gonçalves (nome fictício), de 40 anos, teve uma tendinite no pulso. A designer gráfica pagou caro os movimentos repetitivos feitos ao longo de 12 anos numa editora, em que fazia a paginação de livros escolares no computador. Começou com um desconforto, as dores aumentaram e ao fim de sete meses foi operada.

Casos como os de Rita são cada vez mais frequentes. As novas tecnologias como os computadores, as consolas e até os telemóveis fizeram disparar o número de tendinites no pulso, isto é, uma inflamação nos tendões. "Os casos estão a aumentar, sobretudo devido ao uso dos ratos", alertou ao DN Fernando Cruz, ortopedista do Hospital dos Lusíadas.

Em causa está "a sobrecarga dos movimentos repetitivos", que com o uso generalizado dos computadores começa cada vez mais cedo. O ortopedista Paulo Amado realçou que estas repetições de movimentos "podem causar uma inflamação crónica no pulso", que pode deixar a pessoa incapacitada.

No início, Rita Gonçalves pensou que não era nada de grave. "Coloquei uma fita de protecção, mas como as dores continuaram acabei por ir ao médico que me passou uma pomada", contou. Porém, o problema mantinha-se. "Tive de pôr baixa e comecei a fazer exames", contou. Nunca pensou em classificar a sua tendinite como uma doença profissional, até que foi chamada à Segurança Social, devido à baixa prolongada.

"O médico do trabalho deve estar atento e aconselhar os patrões a tomar medidas", salientou Paulo Amado, que acrescenta que muitos casos acabam por se repetir: "Quando curam, voltam aos mesmo trabalho, às mesmas condições, aos mesmos gestos".

Para evitar o problema, Fernando Cruz aconselha quem desempenha tarefas repetitivas a ter equipamentos à sua medida e uma postura correcta . "As pessoas já vão tendo mais cuidado."

Lúcio Mendonça, de 60 anos, é um exemplo de quem conhecia os riscos. Trabalhou mais de 30 anos num café. O gesto repetitivo de mexer na máquina do café causou-lhe uma tendinite. "Acabou por não ser grave. Criei uma habituação dos tendões a um gesto. Se tivesse continuado, teria agravado a situação", contou ao DN.

Mais complicado ficou o caso de Rita. "Além de não me conseguir curar, tive problemas na editora. Convidaram-me para sair", relembrou.

Nos exames médicos, além da tendinite, foi-lhe detectado um entupimento do canal cárpico, que exigiu uma cirurgia. Mas, segundo os clínicos, a operação só é necessária em casos extremos e se nenhum tratamento resultar.

Os tratamentos normalmente começam com anti-inflamatórios. Nalguns casos, a fisioterapia será recomendável, com ultra-sons, massagens ou exercícios específicos. "É preciso ter a noção que o facto de se ter uma tendinite não significa ir a correr para um ortopedista. Deve começar-se com o clínico geral. Só se a situação não se resolver é que será aconselhado um ortopedista", disse Paulo Amado.

Depois de detectada a tendinite, Fernando Cruz e Paulo Amado alertam para a necessidade de identificar correctamente os movimentos que lhe deram origem. Há profissões em que o risco é mais elevado: além daquelas que exigem o recurso a computadores, as que implicam linhas de montagem, como é o caso da indústria de peças de automóveis ou dos têxteis.

No desporto, a inflamação dos tendões do pulso é igualmente comum, principalmente no ténis e no golfe. Mas modalidades como andebol, basquetebol, voleibol e até motociclismo também trazem risco de desenvolver a doença.

Hélder Rodrigues, motard que venceu uma etapa do Dakar, chegou a interromper treinos e competições para curar uma tendinite no pulso.


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