sábado, 31 de julho de 2010

Canadá descobre navio perdido há 155 anos


Mudança climática está a criar passagem do Noroeste. Achado tem valor político

Arqueólogos canadianos descobriram os restos afundados de um navio britânico desaparecido há 155 anos. O HMS Investigator está ligado a uma das sagas da exploração marítima, a busca da passagem do Noroeste, mas participou numa das mais famosas tragédias do Árctico, a procura da expedição perdida de John Franklin. O navio de 422 toneladas foi abandonado em 1855, após dois anos preso no gelo. A maioria da tripulação foi salva por navios da Royal Navy, mas os cientistas também encontraram as tumbas de três marinheiros vitimados pelo escorbuto.

A expedição arqueológica canadiana tinha acabado de chegar à ilha Banks, no mar de Beaufort, norte do Canadá, para um trabalho de duas semanas, mas 15 minutos depois de colocar o sonar na água encontrou ecos que indicavam um achado. O navio está a oito metros de profundidade e a madeira encontra-se bem preservada.

A epopeia árctica do Investigator (ao lado, uma gravura da época) começou em 1848, quando o navio de 36 metros foi comprado e reforçado no casco. A expedição partiu em 1853, comandada por Robert McClure, com a missão de encontrar a mítica passagem do Noroeste, um canal navegável pelo norte, que pouparia semanas na navegação entre Europa e Ásia. Mas havia outra tarefa: saber o que acontecera à expedição de John Franklin, que partira em 1845 em busca da passagem do Noroeste, com 128 homens a bordo.

Hoje, sabe-se que a expedição de Franklin acabou de forma catastrófica e lenta. O gelo destruiu os navios e os homens tentaram regressar a zonas habitadas. Alguns indícios contam uma história macabra de canibalismo e de envenenamento com chumbo (da comida enlatada, ao tempo uma perigosa inovação).

A expedição do Investigator quase teve o mesmo destino, mas McClure foi salvo no último momento, acabando por ganhar um prémio monetário pela descoberta da passagem do Noroeste.

Esta não existia na época. Em breve existirá devido às mudanças climáticas e aos efeitos que estas produzem no gelo do Árctico. Para o Canadá, a descoberta arqueológica tem grande importância política, pois reforça a soberania do país sobre esta parte do Árctico, que em tempos de águas livres de gelo ganhará uma importância estratégica que nem os exploradores do século xix podiam imaginar.


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